
plataforma de embarque da estação Luz, a partir de uma das pontes superiores, no centro de São Paulo, por R.I.
Agora vem a versão cinema de ‘Trem noturno para Lisboa’ (dir. Bille August), a partir do livro de Pascal Mercier: a intempestiva viagem de um professor sem grandes voos movida por um livro e um autor fascinantes, encontrados por acaso em um bolso de casaco de quase suicida que ele acaba de salvar.
A busca por uma vida mais significativa, temperada por liberdade e valores éticos, parece ser uma constante para muitas pessoas. Talvez o grande objetivo para alguns. E se envolver fins sociais, como justiça e democracia, parece justificar ainda mais uma ruptura com a rotina, o já conhecido. A metáfora da viagem sem roteiro sempre cai bem nesse quadro. Ainda mais com uma cidade de passados e letras, como Lisboa. O espectador poderá desejar, em coro com o personagem e com o restante da audiência.
Mas serão esses os componentes do drama do dia a dia? Um livro misterioso, um trem a partir, uma história revolucionária? Ou será o boleto, o subúrbio, a falta de história? Como diriam os mestres budistas, a iluminação ocorre nos gestos mais banais do cotidiano, no chão que pisamos cada manhã, quando há atenção plena ao que está realmente acontecendo.
O filme termina antes do livro, deixando uma atmosfera expectante sobre os rumos do professor. Alguma coisa se perdeu na transposição. Talvez o empuxo da viagem. Talvez a própria passagem.