Minhas fontes confirmam: é ‘Gabriel’s oboe’ a música que vamos ouvir quando entrarmos em uma outra dimensão; quando partirmos desta para uma melhor; quando entrarmos no paraíso, se assim crermos e merecermos. O tema de Ennio Morricone nos acompanha como um tapete de boas vindas, um prenúncio de tempos melhores para quem sofreu tanto deste lado de cá. Ao sopro do oboé ele soa como um nascimento. Na transcrição para violoncelo, de Yo-Yo Ma, mais se parece com um renascimento. Não se sente como uma travessia de portal, mudança de cenário, mas algo menos material, uma densidade diferente, talvez mais rarefeita, mais leve, sutil. Em qualquer das versões é uma música que nos devolve um bem estar, uma paz de espírito que se imaginava perdida para sempre. Ela faz ressoar cordas de uma inocência que se acreditava integrada à natureza, parte de uma história esquecida.
E assim se ouvirá, nesse reencontro em uma idade já sem tempo, devolvidos que seremos a uma existência sem história. Também sem memória, o que talvez será ressentido, porque sem nada para repetir.
Estamos despreparados para essa nova fase, acredito. A música é de beleza sem respiro, quase sufocante. Mas o chão escapa, desliza à tentativa dos passos.